Inicio
este relato ou outro tipo, ainda indizível, tempo de escrita de quem se
conforma com alguma espécie de trabalho aceito. Sim, não consigo mais escapar
desta forma de expressão, talvez única que me motive a continuar por aqui. Confesso
que a pretensão não seja uma forma de alcançar emoções, mas de buscar outras
formas de pensar, expandindo as ideias. Como alguns sabem, tenho sensibilidades
que podem ser descritas por alguns grupos que buscam formas de comunicação com
o invisível. Essa expressão, o invisível, já diz muito: recebo assopros, assim
como agora, para poder compor o talvez relato que irá ser publicado.
A
natureza sempre me deixou encantado, suas formas e cores, me deixavam em alerta.
Como podemos ter dúvidas do invisível que nos cerca? Compreender o existir em
condições mínimas é um estágio que, para alguns, reduz-se a esfera de
possibilidades que lhe foi a presentado? – Confesso: preciso deixar estas vozes
invisíveis tomares forma. Quando fui apresentado à natureza, me comovi com a
emoção de pequenas entregas no meu interior mais escuro. Ter o que dizer é
sempre um desafio, ainda mais quando há o anúncio de temas os quais irei
desenvolver aqui. Quando ouvi alguns murmúrios que saiam das águas de um rio,
tive uma sensação de não estar só. As histórias que me foram contadas poderiam
ter norteado algumas definições, porém, seriam estáticas nos conceitos nos
quais venho tentar organizar.
Lembro-me
de um senhor, chamado por alguns de bruxo, me dizendo quando eu era bem
criança. “Você é muito sensível, lembre-se que com o passar do tempo você irá
se perceber mais os outros”. Então, o que dizer de alguém que poderia falar
sobre mim ao perguntar somente a data do meu nascimento? Existe, de fato, alguma
missão a ser cumprida? Controlo, muitas vezes, quando sinto, sim, as várias
sensações do encontro que tenho com o eu dos outros. Às vezes há muito choque
nestas percepções, mas muitas vezes consigo me aproximar de forma leve, sem
causar estranhamentos diante do que sou. O invisível nos acompanha, seja nas
formas do pensar ou simplesmente existir. Também já consigo compreender que esta
escrita irá comunicar aos que tem o olhar de ver a não institucionalização do
invisível, por isso insisto em uma palavra, o invisível, acontecimento
ainda estático do pensar exaustivamente os possíveis significados aqui
encontrados.
O
que não vemos, diante das necessidades de tornar-se visível, é mistério
implacável em qualquer cultura. Toda ordem mítica é possuidora de
militância de dar nomes ao que não sabemos de fato. Mas essa necessidade minha
de não utilizar nomes de doutrinas é porque a minha militância está na
observação dos efeitos e sensações, construindo visões deste tão impreciso
mundo de ideias amorfas. Hoje, estive conversando com uma pesquisadora acerca
da morte. E intrigado com o tema, me atirei no devaneio de uma visão mais
materialista. E volto a dizer, este agora, relato, me impede de afirmar o invisível
como fonte de reflexão próxima ao materialismo como forma de ver o mundo. O
invisível nos acompanha, seja nas lembranças de histórias contadas, explicações
da existência, ou a resgatar significações impostas por grupos de místicas
diversas, precisando contar certa coerência em linearidades que tomam formas
narrativas para dar conforto.
Para
demarcar algum tipo de territorialidade, afirmaria apenas que digito a
experiência associada a algumas leituras feitas dos meus trinta e três anos de
múltiplas percepções. A experiência, grão das vozes que me cercam, contribui
aos leitores inquietos no sentido de poder romper com o falar de situações, mas
sem o cercar-se de sentido doutrinário. A verdadeira beleza da composição que
busco não se filia a grupos de poetas, nem contistas, nem romancistas de gerações
comprometidas com a arte. Muito menos pretendo seguir normas de uma escrita tão
cheia de pompas. Aqui, há apenas a experiência do viver o turbilhão de
reflexões diárias para serem compartilhadas. Se o invisível nos acompanha, o
que encontramos no cotidiano merece algum tipo de direcionamento no olhar?
Quando alguém diz que ouve vozes, possuindo coerência no dizer, podemos dizer
que há algo de sobrenatural em sua comunicação? Enfim, dizem algumas pessoas
que sou acompanhado por alguns sujeitos – invisíveis – inconformados com a
impossibilidade de escrever. Desde que tive esta certeza, diante de tantas
incertezas do invisível, entrei em contato com um deles. O Jovem Poeta sofria
de angústias, dores e desamores. Me fez digitar e recolher muitas histórias de
amor, motivo o qual ainda me persegue. Acredito que faz uns dez anos que temos
este pacto de leituras em comum, mas recém hoje assumo sua identidade invisível,
O Jovem Poeta, inspirador de momentos às vezes pouco agradáveis. Quando
encontrei A história do Amor no Ocidente, obra do renomado e visível, Denis
Rougemont, sugestão dele para uma leitura bem fundamentada, pude fazer um bom
percurso no seu tema escrita. Ele só conseguiu me convencer de sua voraz forma
de expressão, uma vez dentro de um ônibus, papel no escuro:
Teu
rosto: máscara observada
no
fundo de um abismo.
Meu
vulto: marcas na íris
que
vertem um mar de sangue.
Tua
ausência: liberdade que me singulariza
para
deixar-me vazio.
Minha
falta: assombroso rito que te fragmenta
para
tornar-te intocável.
Tua
voz: ficção inverossímil, inoportuna...
o
mito do Caos em poucas palavras.
Meu
discurso: preciso que termines
dentro
de mim.
A invisível história a ser relatada
naquele momento, só consegui aceitar este convite de relatar sua vida, após
anos que convivências, partilhados dores indefinidas e inexplicáveis. O Jovem
Poeta Invisível, para alguns, morto, comunica-se comigo sempre que me apresento
ao recitar poemas de amor ou desamor, mesmo nunca o tendo visto. Enfim, este é
o primeiro texto, relato de experiências minhas com estas formas que às vezes
abusam um pouco da minha paciência de problemas com a existência. Acredito nas
aparições de pensamentos, muitas vezes tão abstratas, que mal consigo
materializar textualmente tal comunicação. O que é esse invisível que nos
cerca? Porque só tenho sossego no explanar agonicamente o desassossego? O Jovem
Poeta costuma me acompanhar em diversas circunstâncias, inclusive quando
estamos na mesma sintonia nos divertimos com as palavras em repetição. Como:
Escrito, Circunscrito, Dito em Precipício. Exercício que nos leva a entrar em
contato no invisível, facilitando os afastamos das instituições que me cercam.
O tema desenvolvido cumpre o ritual
decisivo, pontapé inicial, uma série questionamentos sobre as formas nem sempre
precisas de comunicação, onde me sinto envolvido. A única particularidade reluzente
de ideias está no impreciso, fonte de palavras que militam sem doutrina alguma.
Meu amigo Poeta continua cheio de reflexões agora mais claras as quais posso
compartilhar com o aceite, sem contrariedade alguma. E como não pretendo lançar
mão de outras vozes que me cercam, confio que outras formas de expressão podem
começar a fluir, mais uma vez, no murmúrio de um rio.
D_ M_ (O Jovem Poeta Invisível)
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