terça-feira, 14 de agosto de 2012

O INVISÍVEL NOS ACOMPANHA



Inicio este relato ou outro tipo, ainda indizível, tempo de escrita de quem se conforma com alguma espécie de trabalho aceito. Sim, não consigo mais escapar desta forma de expressão, talvez única que me motive a continuar por aqui. Confesso que a pretensão não seja uma forma de alcançar emoções, mas de buscar outras formas de pensar, expandindo as ideias. Como alguns sabem, tenho sensibilidades que podem ser descritas por alguns grupos que buscam formas de comunicação com o invisível. Essa expressão, o invisível, já diz muito: recebo assopros, assim como agora, para poder compor o talvez relato que irá ser publicado.
A natureza sempre me deixou encantado, suas formas e cores, me deixavam em alerta. Como podemos ter dúvidas do invisível que nos cerca? Compreender o existir em condições mínimas é um estágio que, para alguns, reduz-se a esfera de possibilidades que lhe foi a presentado? – Confesso: preciso deixar estas vozes invisíveis tomares forma. Quando fui apresentado à natureza, me comovi com a emoção de pequenas entregas no meu interior mais escuro. Ter o que dizer é sempre um desafio, ainda mais quando há o anúncio de temas os quais irei desenvolver aqui. Quando ouvi alguns murmúrios que saiam das águas de um rio, tive uma sensação de não estar só. As histórias que me foram contadas poderiam ter norteado algumas definições, porém, seriam estáticas nos conceitos nos quais venho tentar organizar.  
Lembro-me de um senhor, chamado por alguns de bruxo, me dizendo quando eu era bem criança. “Você é muito sensível, lembre-se que com o passar do tempo você irá se perceber mais os outros”. Então, o que dizer de alguém que poderia falar sobre mim ao perguntar somente a data do meu nascimento? Existe, de fato, alguma missão a ser cumprida? Controlo, muitas vezes, quando sinto, sim, as várias sensações do encontro que tenho com o eu dos outros. Às vezes há muito choque nestas percepções, mas muitas vezes consigo me aproximar de forma leve, sem causar estranhamentos diante do que sou. O invisível nos acompanha, seja nas formas do pensar ou simplesmente existir. Também já consigo compreender que esta escrita irá comunicar aos que tem o olhar de ver a não institucionalização do invisível, por isso insisto em uma palavra, o invisível, acontecimento ainda estático do pensar exaustivamente os possíveis significados aqui encontrados.
O que não vemos, diante das necessidades de tornar-se visível, é mistério implacável em qualquer cultura. Toda ordem mítica é possuidora de militância de dar nomes ao que não sabemos de fato. Mas essa necessidade minha de não utilizar nomes de doutrinas é porque a minha militância está na observação dos efeitos e sensações, construindo visões deste tão impreciso mundo de ideias amorfas. Hoje, estive conversando com uma pesquisadora acerca da morte. E intrigado com o tema, me atirei no devaneio de uma visão mais materialista. E volto a dizer, este agora, relato, me impede de afirmar o invisível como fonte de reflexão próxima ao materialismo como forma de ver o mundo. O invisível nos acompanha, seja nas lembranças de histórias contadas, explicações da existência, ou a resgatar significações impostas por grupos de místicas diversas, precisando contar certa coerência em linearidades que tomam formas narrativas para dar conforto.
Para demarcar algum tipo de territorialidade, afirmaria apenas que digito a experiência associada a algumas leituras feitas dos meus trinta e três anos de múltiplas percepções. A experiência, grão das vozes que me cercam, contribui aos leitores inquietos no sentido de poder romper com o falar de situações, mas sem o cercar-se de sentido doutrinário. A verdadeira beleza da composição que busco não se filia a grupos de poetas, nem contistas, nem romancistas de gerações comprometidas com a arte. Muito menos pretendo seguir normas de uma escrita tão cheia de pompas. Aqui, há apenas a experiência do viver o turbilhão de reflexões diárias para serem compartilhadas. Se o invisível nos acompanha, o que encontramos no cotidiano merece algum tipo de direcionamento no olhar? Quando alguém diz que ouve vozes, possuindo coerência no dizer, podemos dizer que há algo de sobrenatural em sua comunicação? Enfim, dizem algumas pessoas que sou acompanhado por alguns sujeitos – invisíveis – inconformados com a impossibilidade de escrever. Desde que tive esta certeza, diante de tantas incertezas do invisível, entrei em contato com um deles. O Jovem Poeta sofria de angústias, dores e desamores. Me fez digitar e recolher muitas histórias de amor, motivo o qual ainda me persegue. Acredito que faz uns dez anos que temos este pacto de leituras em comum, mas recém hoje assumo sua identidade invisível, O Jovem Poeta, inspirador de momentos às vezes pouco agradáveis. Quando encontrei A história do Amor no Ocidente, obra do renomado e visível, Denis Rougemont, sugestão dele para uma leitura bem fundamentada, pude fazer um bom percurso no seu tema escrita. Ele só conseguiu me convencer de sua voraz forma de expressão, uma vez dentro de um ônibus, papel no escuro:
Teu rosto: máscara observada
no fundo de um abismo.
Meu vulto: marcas na íris
que vertem um mar de sangue.

Tua ausência: liberdade que me singulariza
para deixar-me vazio.
Minha falta: assombroso rito que te fragmenta
para tornar-te intocável.

Tua voz: ficção inverossímil, inoportuna...
o mito do Caos em poucas palavras.
Meu discurso: preciso que termines
dentro de mim.
            A invisível história a ser relatada naquele momento, só consegui aceitar este convite de relatar sua vida, após anos que convivências, partilhados dores indefinidas e inexplicáveis. O Jovem Poeta Invisível, para alguns, morto, comunica-se comigo sempre que me apresento ao recitar poemas de amor ou desamor, mesmo nunca o tendo visto. Enfim, este é o primeiro texto, relato de experiências minhas com estas formas que às vezes abusam um pouco da minha paciência de problemas com a existência. Acredito nas aparições de pensamentos, muitas vezes tão abstratas, que mal consigo materializar textualmente tal comunicação. O que é esse invisível que nos cerca? Porque só tenho sossego no explanar agonicamente o desassossego? O Jovem Poeta costuma me acompanhar em diversas circunstâncias, inclusive quando estamos na mesma sintonia nos divertimos com as palavras em repetição. Como: Escrito, Circunscrito, Dito em Precipício. Exercício que nos leva a entrar em contato no invisível, facilitando os afastamos das instituições que me cercam.
            O tema desenvolvido cumpre o ritual decisivo, pontapé inicial, uma série questionamentos sobre as formas nem sempre precisas de comunicação, onde me sinto envolvido. A única particularidade reluzente de ideias está no impreciso, fonte de palavras que militam sem doutrina alguma. Meu amigo Poeta continua cheio de reflexões agora mais claras as quais posso compartilhar com o aceite, sem contrariedade alguma. E como não pretendo lançar mão de outras vozes que me cercam, confio que outras formas de expressão podem começar a fluir, mais uma vez, no murmúrio de um rio.
D_ M_ (O Jovem Poeta Invisível)

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