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Todas
as manhãs, o menino esperava sentir o calor na caixa de papelão para saltar do
seu esconderijo. Sua morada, sempre incerta, só ocupava lugares que a luz do
sol pudesse trazer um pouco de esperança ao invadir o espaço.
O menino de muitos nomes, e digo
isso porque a cada situação de buscas cotidianas, ele dizia um nome diferente, e
quando alguém perguntava. Sua escola, a rua, lhe dava muitas sugestões, “João,
Antônio, José, Chico...” Mas gostava mesmo era de dizer que se chamava Leo,
lembrança de um dia, último abandono.
Sua
mãe tinha cabelos longos, recheado de cachos, fora levada por um desconhecido
carro preto. E em sua memória, restavam palavras difíceis de entender:
— Deixem
o Leo, ele não tem culpa, deixem, deixem...
Culpa?
Talvez ao final desta história ele venha a recordar o significado desta
palavra, assim como abandono e ausência. Quem são os homens que levaram sua
mãe, senão, policiais em busca de divertimento no abandono dos Sem Ninguém. Sem Nomes. Nem Lar.
A
rua é kármica. Principalmente na situação de quem se veste de restos de lixo.
Lembro que quando o vi pela primeira vez, saltara de dentro de uma caixa de
papelão aquecida pelo sol da manhã, único dia que vi um sorriso no rosto do
menino de olhos inchados pela vida. Ao olhar o sol, pediu a luz que pudesse
encontrar sua mãe:
—
Me leva pra ela?
Neste instante, se aproximou do menino um raio
de luz que o abraçou, fazendo com que parasse de sentir frio. Seus olhos não
paravam de pedir alívio ao sol. Sua mente inquieta de fome fazia a ligação dos
pontos de luz ao desenhar o rosto da mãe, que dizia:
— Meu
filho, aceite o meu abraço, estou sempre ao seu redor.
Rua
kármica, eu disse? Se existem causas, estes são os efeitos? Difícil acreditar
que alguém escolha esta forma de vida tão precária. Por um bom tempo, estive
buscando temas para a escrita e espero ao final desta história de rua, realizar
o sonho de entendimento mais amplo sobre a vida que pulsa nos olhos de muitos
sem nomes, sem ninguém.
Bom,
para seguir o que me consome no desejo de saber mais sobre a rua em seus
efeitos, o menino de olhos inchados pela vida rompeu o meu peito em esperança e
curiosidade. Por que alguns sem nome ainda resistem nas ruas cheias de
sobrenomes? Em todas as esquinas, existem placas com nomes, sobrenomes... Ah, o
menino jamais entenderia. Jamais? Que segredos poderei descobrir sobre aqueles
olhos? De que vale um sobrenome pra quem nem tem certeza do seu nome?
Os
seus olhos inchados pela noite escura às vezes só encontravam pontas de
cigarro, primeira fome saciada. Certo dia tentei intuí-lo para que deixasse as
pontas de cigarro acesas, mas ele pouco me ouvia. Acredito que sua principal
sede era a de não pensar muito nos restos que lhe eram ofertados pelo Universo.
Um Deus ingrato? A fumaça, também como restos, lhe causava um torpor diário que
faziam as suas ausências desaparecer por alguns instantes. Talvez se ele me
visse, eu conseguiria romper com os seus hábitos de pouca esperança. Mas há
esperança na vida de rua em rua?
Invisível
aos olhos do menino, tentei encontrá-lo enquanto dormia para tentar ajudar em
algo. E o mais estranho de tudo é que ao sair em sonho, o menino de olhos
inchados pela vida deixava de ser o pequeno Sem
Nada e se transformava num homem seguro se si, cheio de riqueza em suas
vestimentas.
Quem
seria este Sem Nada com uma vida
espiritual tão diferente? No sonho, ele teria sobrenome? Tinha uma expressão
com o andar de carruagem, fora do corpo habitado..................................................... ........................ .................................... ................................................. .............................................................. ............................. .................................... ......................................................... ............................ ............................... ............................. ................................... ............................... ...........................
(autor Desconhecido)