quarta-feira, 20 de novembro de 2013

CARTA A UM SUICIDA



(1º Bilhete)

 Depois de tanto tempo sem perceber um pensamento seu, descobri este caminho para voltar a ter alguma espécie de presença sua. Sei que não consegues negar leituras. Suas escolhas são suas, sempre me foi dito, mas hoje não aguentei, precisei tentar algum tipo de comunicação. Quando você resolveu ir embora, deixando o meu cotidiano sem sua poesia, comecei a imitar os seus versos. Escrevia no ar as minhas angústias por sua ausência.

Todas as pessoas que tomam decisões de ir embora, principalmente a sua, tão cheia de construções que enigmatizavam os meus sentidos, só poderiam produzir vazios nas necessidades de quem fica. Tento não ser egoísta nesta carta que espero ser recebida por seus mensageiros arredios. Mas veja só, não sei o que você faz neste lugar de escuridão. Não sentes saudade de ir até o mar comigo? Não? As minhas palavras nunca significaram nada para você?

 Quero apenas que você deixe de lado os últimos sentidos para a produção, publicações em editoras preocupadas com o consumo só ganham em tempo determinado. Sei que fui duro com as palavras ao dizer que ganhos são importantes na vida de um escritor. A vida Pop Star de uma escrita vazia jamais conseguiria alcançar o simbólico presente em sua preocupação com a escrita. Meu amor, queria tanto que você soubesse o que me dizem sobre os seus textos. Sua escrita toca profundamente as pessoas.

 Quando resolveres retornar do seu exílio, entre em alguma livraria, entre em nossa casa. Tenho pilhas de cartas enviadas ao Amor que foi amado por você. Sinto sua falta quando ouço Handel. Quando leio Lorca. Quando sinto Foucault. Sei que um dia poderei sentir as suas ideias, mas esperar por isso é difícil. Fiz um perfil em redes sociais, mas só públicos textos com metáforas prolongadas, narrativas mais densas aprofundam o olhar Soft na Rede.

E volto a dizer, quando chegar a minha hora, quero que você esteja bem próximo. Quero poder ver as suas mãos a me tocar como quem escreve ainda escreve, apoiando o desejo de continuar. Lembro quando dizia “Meus melhores versos foram escritos entre o seu cardíaco e o plexo solar”. Meu amor, é lua cheia por aqui. Espero você na próxima caminhada. E quando o mar cintilar em cinza, lembrarei que toda escuridão é apenas esconderijo dos sem esperança.

 Com muito amor, enviarei mais cartas como um beijo em seus lindos olhos.

 (autor Desconhecido)

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