Na Santa Felicidade em Curitiba. Ela era linda.
Lindos olhos azuis. Cabelos lindos loiros escorridos. A menina movia-se com a
graciosidade de boneca. Sempre com várias escovas, presilhas para o cabelo, vestidinhos
rodados. A boca onde o sorriso era preenchido por invasões sem escolhas, muitas
vezes. Quem diria que havia algo a mais naquela pele que transparecia apenas
suavidade em verso. Seu pai dizia, minha linda boneca, venha pro colo do papai,
venha. E respirava ofegante por essas esperas em desespero. Todos a chamavam de
boneca, linda boneca, minha boneca, bonequinha. Transpirava o sorriso que a
representava. Sua mãe, sempre ausente nos desejos do pai, apenas seguia as
regras de fêmea submissa, aceitando tudo com naturalidade. Quem diria que os
nós de gazes em compressas serviram para limpar ferimentos de bonecas? A
plasticidade dela tinha limites. Não conseguia ser como uma boneca inflável.
Tinha emoções de uma menina que conhecia brincadeiras de roda. E também as
brincadeiras com o pai. (Líquidos para suavizar entradas, ataduras, apertos em
pernas. O sorriso se desmanchava em choro. O pai dizia, minha bonequinha, adoro
essa brincadeira. Até que ela resolve responder a ele, saindo uma voz de
boneca... desespero... Ele grita: Vomita essa boneca, vai, vomita. Volte minha
filha) E tudo voltou ao normal, ninguém soube de nada. Até hoje.
(autor Desconhecido)
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